Hoje eu estava lendo uma matéria na Gazeta do Povo sobre "República de Curitiba". Claro que, como bairrista que sou, assim como muitos curitibanos que conheço, fiquei feliz com essa notoriedade. Mas sejamos francos, isso não tem a ver com Curitiba, tem a ver com pessoas que compartilham a visão de um Brasil melhor e estão nos lugares certos para fazer isso acontecer, ou pelo menos dar o primeiro passo.
Na verdade eu quero falar sobre essa visão que mencionei antes. Lendo essa matéria, assim como outras a respeito da operação lava jato, dispararam em mim um sentimento que já estava a muito tempo esquecido. Eu senti que começaria a "suar pelos olhos" (bricadeiras à parte) ao perceber que ainda sinto orgulho de ser brasileiro. Quem me conhece sabe que eu não sou dado a futebol e quando tem copa eu torço contra o Brasil, pois sempre tive a esperança de que esse país iria acordar e perceber que uma vitória da Seleção Brasileira não põe pão na mesa. Agora vai ter muita gente que vai me xingar por causa do resultado com a Alemanha, mas acho que foi um mal necessário.
Uma das últimas vezes que eu me senti assim, orgulhoso em ser brasileiro foi numa das vitórias do Senna. Claro que vieram outros momentos depois, mas as corridas de Ayrton Senna marcaram minha infância porque eu o considerava não só um ótimo piloto, mas um grande ser humano. Talvez eu esteja falando bobagem pois não o conheci de perto, mas tenho certeza de que ele inspirou muita gente.
Falando em infância, outro dia comentei com a Elaine, minha esposa, de que quando eu tinha uns 10 anos eu sonhava em ser Presidente da República. Então eu divagava e pensava no que eu faria para melhorar o país e dizia para mim mesmo que eu recusaria o salário porque eu queria dar exemplo para as pessoas, mostrar que eu só queria melhorar o país, e não ficar rico. É claro, eu fui crescendo e percebi o tamanho da minha ingenuidade, pois comecei a ver que para ser presidente eram necessárias varias características que eu não tenho, uma delas é ser político, saber lidar com pessoas. Eu sempre tive esse jeitão meio antissocial, caladão, de poucos amigos. Eu me conhecendo, não votaria em mim para presidente, ainda que sinta que tenha uma moral fruto da boa criação que meus pais me deram. Não votaria em mim porque tenho consciência de que não possuo todas as competências e conhecimentos que o país merece e precisa para crescer. Tudo que tenho é a vontade.
Tendo isso em mente, achei necessário escrever esse texto, pois o que eu tenho lido e ouvido por ai me fazem crer que é necessária alguma atitude e, em vez de esperar, resolvi agir. Muita gente, além da mídia como um todo, tem martelado sobre a questão da corrupção, que a mesma deve ser combatida e que todos os culpados devem ser presos. Isso não está errado, de maneira alguma. A questão é que isso não é suficiente, pois temos que combater a corrupção discreta, aquela que não é flagrada, aquela que está escondida em nós. Acredito que bastante gente tem noção de que a questão de corrupção não é apenas um problema de quem está no poder, mas sim de cada um de nós brasileiros. Temos essa cultura vergonhosa do "jeitinho brasileiro", que nos faz seguir as leis de maneira mais maleável, conforme a conveniência. Não quero passar aqui a ideia de que sou santo, pois já fiz coisas das quais me envergonho e penso "essa bobagem não vou fazer mais". Outras coisas, no entanto, acabam fazendo parte do cotidiano e a gente nem percebe que erra. Quando eu era adolescente eu ganhei um videogame destravado e eu comprava jogos piratas para usar nele. Eu tinha uma vaga noção de que aquilo não estava certo, mas pensava: "Nós, brasileiros, somos roubados o tempo todo, seja com impostos absurdos, seja com corrupção. Esse jogo pirata não vai fazer diferença para os fabricantes". Ledo engano. Com o tempo eu percebi que isso também é corrupção. Não podemos nos permitir errar porque o outro erra. Devemos policiar a nós mesmos antes de policiar os demais.
Não escrevi este texto para ganhar "likes" e compartilhamentos, pois não sou blogueiro e não ganho nada com isso. O que eu almejava com isso era convidar as pessoas de bem a refletir e procurar, dentro de si, uma criança de 10 anos que sonha em fazer a diferença na construção de um Brasil melhor. Enquanto tem gente que fala que devemos rebater a corrupção com nosso voto nas urnas, eu penso que isso não basta. Penso que precisamos que as pessoas de bem, aquelas que não pensam só no salário e no poder que um cargo público propicia, se candidatem a cargos públicos, nem que seja como vereador. Acredito que todos estamos cansados de ver sempre os mesmos e ter a sensação de que o sistema está viciado. Ainda ontem eu conversei com um amigo da minha esposa e pensei: "Eu votaria nesse cara se ele se candidatasse. É honesto, humilde e muito competente no que faz.". A questão é que justamente esse tipo de pessoa não quer se envolver com política porque não quer se sujar. É muito triste.
Se você leu até aqui e esse texto mexeu com você, pense nisso, procure ver se você não poderia fazer algo mais, se você não poderia ser um bom representante do povo. Acredito que assim poderemos dar um bom exemplo para as futuras gerações e então poder ouvir de seu filho ou filha, sua neta ou neto: "Eu tenho orgulho de ser brasileiro."
-- André Luís da Cunha
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